O tripé básico do TDAH em adultos é o mesmo que em crianças - desatenção, impulsividade, hiperatividade - mas esses sintomas são freqüentemente disfarçados por problemas resultantes de uma situação tornada complexa por falta de diagnóstico precoce e tratamento adequado, como desorganização, instabilidade de humor, dificuldades no trabalho, abuso de substâncias químicas e outros problemas psicológicos. Portanto, um profissional experiente no assunto é a pessoa mais indicada para fazer esse diagnóstico.
Características
De acordo com o DSM-IV, os sintomas que definem o TDAH em adultos são os mesmos para a definição em crianças, reformulados de maneira a exemplificar melhor o comportamento de adultos, como "não fica sentado quando isso é esperado", "não presta atenção a detalhes ou faz erros de falta de cuidado no trabalho" ou "não segue comandos e não termina os trabalhos". Freqüentemente, esses sintomas principais que o DSM-IV aponta provocam outras dificuldades, que coexistem com as dificuldades primárias de um adulto com TDAH:
01. Problemas de autocontrole e regulação do comportamento.
02. Memória de trabalho deficiente.
03. Persistência dificiente quanto à finalização de trabalhos.
04. Dificuldade em controlar as emoções, a motivação e o interesse.
05. Irregularidade na execução de tarefas e no desempenho profissional.
06. Atrasos crônicos e percepção do tempo deficiente.
07. Entedia-se com facilidade.
08. Baixa auto-estima.
09. Ansiedade.
10. Depressão
11. Instabilidade de humor.
12. Dificuldades no emprego.
13. Problemas de relacionamento social e interpessoal.
14. Abuso de substâncias químicas.
15. Comportamentos de risco.
Os prejuízos decorrentes tanto dos sintomas principais como dos associados vão desde os mais leves até os mais graves, com conseqüências no funcionamento adaptativo diário em todas as áreas da vida humana, ou seja, pessoal, acadêmica, social e profissional. Não esquecer que os sintomas de TDAH podem ocorrer simultaneamente com outras doenças e/ou estressores ambientais, de modo que os adultos não devem se auto-diagnosticar mas procurar um profissional qualificado e experiente para fazer uma avaliacão abrangente e adequada.
Avaliação
Uma avaliação abrangente compreende consultas a um neurologista ou psiquiatra e a um psicólogo clínico ou educacional. Supõe uma entrevista clínica para o levantamento dos históricos médico, escolar e profissional, da sintomatologia passada e presente do TDAH, de algum episódio que tenha demandado tratamento psiquiátrico - incluindo os medicamentos tomados - do comportamento social e das funções adaptativas (por exemplo: a habilidade para responder às necessidades da vida diária). Essa entrevista tem o objetivo de identificar a existência das três características básicas do transtorno - distraibilidade, impulsividade, hiperatividade - e verificar se esses sintomas são crônicos e invasivos. Não deve ser breve nem superficial; deve levar de uma a duas horas.
O ideal seria que o profissional tivesse outras fontes de informação (mãe ou pai, esposa, companheiro) e sobre vários ambientes (casa, escola, trabalho). É muito importante, também, estababelecer a existência ou não de outros problemas psiquiátricos que expliquem melhor os sintomas apresentados.
Uma avaliação abrangente de um adulto com possível TDAH compreende o uso de escalas de sintomas, a revisão de dados objetivos do passado como boletins, relatórios escolares e outos testes realizados anteriormente, e testes psicológicos para determinar qualquer tipo de deficiência cognitiva ou de aprendizagem que possa estar na base do desempenho deficiente.
Uma avaliação adequada é necessária por três motivos: obter um diagnóstico correto, verificar a presença de comorbidades médicas ou dificuldades de aprendizagem debilitantes e estabelecer a não existência de explicações alternativas para os problemas pedagógicos, comportamentais, ocupacionais/profissionais e de relacionamento apresentados.
Acompanhamento
Crescer sem diagnóstico e tratamento para o TDAH ter efeitos devastadores na vida de um adulto. Para alguns, ter um diagnóstico significa colocar a vida inteira dentro de uma perspectiva correta e trazer compreensão para dificuldades sentidas desde sempre. A auto-estima é instantaneamente modificada, pois percepções negativas de si mesmo - "preguiçoso, lerdo, desatrada, avoada, maluco"- não são mais justificadas. Há uma razão para esses comportamentos!
Embora não exista cura para o TDAH, um tratamento multidisciplinar adequado, que trabalhe efetivamente na administração dos sintomas, pode melhorar a auto-estima, o progresso acadêmico, o desempenho no trabalho e a aquisição de habilidades sociais que propiciem um melhor relacionamento interpessoal.
O primeiro passo nesse caminho é o esclarecimento próprio e dos familiares sobre o TDAH - o que é e como lidar com ele. As pesquisas mostram que a maneira mais eficaz de melhorar os sintomas é o tratamento que combina o uso de medicação estimulante com aconselhamento (do tipo que oferece esclarecimento e apoio). Mas, assim como não há um teste especial para determinar a existência do TDAH, também não há um único tratamento para todos. O tratamento deve ser exclusivo para cada paciente, e abordar todas as áreas comprometidas.
Resumindo, tratamento para um adulto com TDAH inclui um ou vários dos seguintes componentes:
- Consulta com profissionais adequados
- Esclarecimento sobre o TDAH
- Medicamentos
- Grupo de apoio
- Desenvolver estratégias de comportamento para ajudar nos sintomas, como fazer listas, consultar agenda e outras rotinas
- Terapia individual e/ou conjugal
- "Coaching"
- Orientação vocacional
- Ajuda nas escolhas educacionais e profissionais
- Acomodações na escola ou no trabalho
- Perseverança e esforço
Bibliografia
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NADEAU, K.G. (1995) A compreensive guide to Attention Deficit Disorder in adults: research diagnosis and treatment. Brunner/Mazel.
HALLOWELL, E.M. e RATEY, J. (1999). Tendência à distração. Rio de Janeiro: Rocco
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